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quarta-feira, 24 de abril de 2013

Entrega


Viver é, essencialmente, entregar-se!
Ao acaso ou ao caso marcado
à sacanagem ou à sondagem
ao namoro ou ao decoro

entregar-se às vontades
entregar-se às oportunidades
ao silencio e às vaidades
desespero de insanidades

entregar-se é desapego
é o sopro de um soprano
sofisticação é veludo
desejo e abrir mão de tudo

entregar-se é segredo
acanhamento e medo
sutilezas e euforias
traduzidas em momentos de alegria

Viver é, essencialmente, entregar-se.

Fernando Zamban

domingo, 10 de março de 2013

As marcas do tempo

Franzia a testa a cada desagrado. Suspirava fundo e soltava o ar com força para demonstrar a insatisfação. No rosto, carregava as marcas dos anos vividos mas que não combinavam com a idade. O tempo foi cruel com ele. Marcou-o mais do que o necessário apenas para atestar quão valorosa foi sua vida. 

Não tinha peito que coubesse aquele coração. Nunca vi um tão grande e generoso. Se preciso fosse, retirava suas vestes para ajudar um estranho. Acolhia, dava de comer e enchia os olhos d’água, sempre afirmando ter algum cisco incomodando para esconder o deslize. Herança da criação italiana, rígida! A teimosia lhe caia muito bem. Mas nada que um doce sorriso não amolecesse aquele coração. Nada que um carinho não dobrasse a sua alma de menino. Não cabia dentro de si quando, ao telefone, ouvia a voz de um parente distante, um afilhado, um irmão... 

Aquelas marcas, se falassem, gritariam o quando batalhou na vida até o corpo não resistir mais. A cada gota de suor derramada uma hora lhe era tirada. A cada jornada, um mês lhe era tirado. Nunca abatido! Ora alegre, ora ofendido misturava sentimentos e abolia a maldade. As palavras, quase sempre mal ditas, acabavam por perder valor quando comparadas às alegrias que ele proporcionava. E assim a vida se contorce com a simplicidade do coração gigante, que ainda parece menino, ainda parece mais vivo, e viverá ainda mais.

sábado, 9 de março de 2013

A cada novo sol


A cada novo sol, um novo som solo
Um sentimento pleno
E um bom vinho

Talvez a escolha mude muitas vidas
Ou apenas algumas outras vidas
Ou apenas uma vida, a minha

E talvez, logo mais, o desafio aumente
Ou ainda, diminua
Ou ainda se repita, reflita

Nada como crescer,
Sem se prender ou sofrer
Simplesmente viver e ser feliz

Fernando Zamban

Raros olhos


Faço gosto que o céu esteja nublado,
Que a escuridão brinde pouco
E quando as nuvens passarem
E a escuridão amenizar os amantes
Poucos serão os olhos
Raros olhos privilegiados
Que verão o brilho ainda mais reluzente
De uma estrela apaixonada
Amante da escuridão, como os bons amantes.
Os olhos verão uma ou outra
Mas todas estarão lá
A esperar um olhar apaixonado para brilhar um pouco mais.
Mas tal beleza é para olhos raros mesmo
É preciso um coração puro para ver
É preciso coragem para olhar
Por que brilho das estrelas queima a alma.

Fernando Zamban

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

"Enquanto os olhos piscam"


Se os olhos traíssem
Ao menos uma vez,
A inquietude dos pensamentos
E se deixassem cair em tentação                                                  

Se esses olhos sorrissem
Ou se cantassem
Seriam poucos os lugares
Para sorrir e ser feliz

Se o olhos sussurrassem
Os mais íntimos sentimentos
sofisticando a imaginação
os lábios emudeceriam.

Sóbrios e sem timidez
Sem alegorias
Sem convés nem revés
Com coragem e sabedoria

Apenas cumplicidade
Um simples desvelar
Sem rodeios
Sem pestanejar

Se os olhos agissem mais,
A boca beijaria mais
O corpo acalentaria mais
E a paixão prevaleceria sempre

Fernando Zamban

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Clamor à euforia!


São humanos,
que ceifam vidas e destroem famílias?
Que removem, em minutos, a alegria
antes cultivada, com tamanha euforia?

E ainda que não fosse eufórica
Era incondicional,
Era irredutível e passional,
Imprescindível e retórica.

São jovens, são lutadores.
São bravos autores.
Tombados pela ganância,
pelo sistema e pela intolerância.

Não choramos a ausência da vida,
choramos a extinção dos sonhos,
o silêncio e as almas divididas
e o triste amargo do mate nos lábios.

Resta, então, senhoras e senhores
O clamor pela euforia,
pela alforria
e pelo perfume das flores.

Não deixarão de viver e reviver
Esses não... Aqui não!
Por que ousaram sonhar
e sonharam...
e sonham...

Fernando Zamban

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Perfeição


Um dia percebi que não poderia ser perfeito
E então descobri que se você não é capaz de ser perfeito
E não caminha no mesmo tempo
parece que tudo é em vão,
e todas as coisas boas já vividas
tornam-se poeira e desaparecem com a menor brisa.

E então percebi que não poderia ser mais do que sou
E descobri que isso é muito pouco para algumas pessoas
E que elas esperam de ti
exatamente o que elas gostariam que você fosse
E se eu não for?

Daí, enfim, percebi que não poderia ser mais feliz
E então descobri que se você não é capaz de fazer alguém feliz
Não é tão feliz assim
E toda a felicidade que já proporcionou
Tornam-se poeira e desaparecem com a menor brisa.

E então...

Fernando Zamban