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domingo, 10 de março de 2013

As marcas do tempo

Franzia a testa a cada desagrado. Suspirava fundo e soltava o ar com força para demonstrar a insatisfação. No rosto, carregava as marcas dos anos vividos mas que não combinavam com a idade. O tempo foi cruel com ele. Marcou-o mais do que o necessário apenas para atestar quão valorosa foi sua vida. 

Não tinha peito que coubesse aquele coração. Nunca vi um tão grande e generoso. Se preciso fosse, retirava suas vestes para ajudar um estranho. Acolhia, dava de comer e enchia os olhos d’água, sempre afirmando ter algum cisco incomodando para esconder o deslize. Herança da criação italiana, rígida! A teimosia lhe caia muito bem. Mas nada que um doce sorriso não amolecesse aquele coração. Nada que um carinho não dobrasse a sua alma de menino. Não cabia dentro de si quando, ao telefone, ouvia a voz de um parente distante, um afilhado, um irmão... 

Aquelas marcas, se falassem, gritariam o quando batalhou na vida até o corpo não resistir mais. A cada gota de suor derramada uma hora lhe era tirada. A cada jornada, um mês lhe era tirado. Nunca abatido! Ora alegre, ora ofendido misturava sentimentos e abolia a maldade. As palavras, quase sempre mal ditas, acabavam por perder valor quando comparadas às alegrias que ele proporcionava. E assim a vida se contorce com a simplicidade do coração gigante, que ainda parece menino, ainda parece mais vivo, e viverá ainda mais.

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